António e Cristina Rodrigues

“É estranho conservar na imaginação ou na memória (uma coisa ou outra ou uma coisa e outra) como que o baixo-relevo de uma realidade que talvez o não seja. Igualmente singular é outra coisa, que também acontece, que consiste em ver a história vir depois ao nosso encontro, tornando de repente reais um ser ou um incidente inventados […] Rochas compósitas, feitas de lavas vulcânicas e de sedimentos arrastados pela água, amálgama com milhares de séculos de idade. E a sua forma exterior perpetuamente trabalhada, esculpida de novo pelo ar e pela água […] No entanto, essa presença animal tem um papel importante no idílio sagrado: o êxtase divino e a felicidade humana não podem passar sem a alegria silenciosa das humildes criaturas exploradas pelo homem, que com ele partilham a aventura de existir. Era sobretudo no amor que os Gregos misturavam os animais com os seus deuses.” Marguerite Yourcenar “O tempo esse grande escultor”, 1984

Em 2008 colhemos alguns ensaiões na boca da ribeira de S. Vicente, a caminho do Seixal, que julgamos ser o endemismo Aeonium glandulosum (Ait) Webb & Berth. Estas Crassulaceas, trazidas para um ambiente diferente do seu habitat natural, foram instaladas num prato de barro, ovóide, aconchegadas entre basaltos, tufos, traquito e outros seixos, num pequeno jardim íntimo, onde convivem, há cerca de 3 anos, em harmonia diária com outros indivíduos botânicos como, uma Crassula argêntea L. f. (Planta de jade ou Ensaião branco), uma Gardenia jasminoides (Gardénia), um Plectranthus coleoides (Incenso bastardo) e uma Picea pungens (Espruce azul).

O convite para a participação no projecto de intervenção no espaço Infoarte, “Coração Verde”, no âmbito da Festa da Flor 2011, implicou reequacionar o prato ajardinado e criar uma nova atmosfera cúmplice de momentos de doação e de sensualidade, associados a vivências de infância e de adolescência.

O desenho (Cristina) permitiu visualizar uma ideia que nos levou a reviver lugares, poios e socalcos, camalhões e regos, levadas e muros povoados de diversas espécies de plantas de onde foi seleccionada o Umbilicus rupestris (Inhame ou Ensaião de lagartixa) entre fetos, musgos e outros elementos da natureza.













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António Rodrigues, Funchal, 1951
Licenciatura em artes Plásticas : Escultura / Busto, bronze, Eng. Rui Vieira : Jardim Botânico (2010); Desenhos : Universidade da Madeira (2009); Preâmbulo : exposição colectiva : Cabeça, gesso, Desenho a carvão : Museu de Arte Contemporânea do Funchal (2009); M. Wie falha por uma pancada. Baixo-relevo, gesso (2004); Varadouros, : relevo, cimento : Av. do Mar, Funchal (2004); Leve Sorriso ao Canto da Boca : Desenhos : exposição (2001); Desenhos : Museu de Arte Contemporânea do Funchal (1999); Rendimento diário, basalto : Casa da Cultura, Câmara de Lobos (em arrecadação desde 1998); Pollen, traquito, tufo de lapilli : Qta do Revoredo : Sta Cruz; (1997); Arte e Etnografia, Festividades : Baixos-relevos, gesso (negativo) : Museu Etnográfico da Madeira. Ribeira Brava (1997); Desenho, Faculdade de Belas Artes – Universidade de Lisboa (exposição de antigos alunos do Mestre Lagoa Henriques, no seu Jubileu – 1993); Desenho, Pintura, Colagem. Átrio da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal (1971).

H. Cristina Rodrigues, Funchal, 1974

Licenciatura em Turismo / Leve Sorriso ao Canto da Boca : livro / catálogo : co-participação (2001).