Bruno Côrte

I - Jardim criado com musgo, Bryophyta
Os musgos pertencem ao grupo das briófitas e como tal são desprovidos de vasos de condução e tecidos. São constituídos por caulóides, rizóides e filóides. São plantas criptógamas, isto é, que possui o órgão reprodutor escondido, ou que não possuem flores. Preferem viver em lugares húmidos (são dependentes da água para a reprodução) e preferem lugares com sombra. Geralmente atingem poucos centímetros de altura justamente por não possuírem vasos de condução de seiva.


II – Breve História dos jardins
Mesmo antes das primeiras civilizações, existiu o "Jardim do Paraíso". Em Géneses I e II, é descrito como um vasto jardim onde foram plantadas e cultivadas árvores de todas as espécies, agradáveis para se contemplar e alimentar. A história das civilizações relata que os assírios foram os mestres das técnicas de irrigação e drenagem, criando vários pomares, hortas e jardins formados pelos canais que se cruzavam, que de uma forma evidente mostra-nos que a forma e a distribuição do jardim se identificavam com a prática da agricultura.

Os textos mais antigos sobre jardins datam do terceiro milénio a.C., escritos pelos babilónios, descrevem os "jardins sagrados", onde os bosques eram plantados sobre os zigurates. É na própria Babilónia que se encontra a obra mais marcante da jardinagem desta época, sendo considerada pela humanidade como uma das suas maravilhas: os Jardins Suspensos da Babilónia que se caracterizavam pela supremacia dos elementos arquitectónicos sobre os naturais.

A história da jardinagem remonta, assim, ao Antigo Egipto e aos famosos Jardins suspensos da Babilónia, tendo tido lugar proeminente em todas as grandes civilizações ao longo da história, tanto no mundo ocidental como no extremo-oriente. O século XX introduziu a jardinagem na planificação urbanística das cidades e uma maior relação com os espaços verdes. Embora exista evidência do cultivo de plantas para fins alimentares desde há vários milénios, as primeiras referências conhecidas a jardins ornamentais encontram-se na decoração dos monumentos funerários do Egipto, datados de 1500 AC, onde se podem observar tanques com flores de lótus rodeadas por fileiras de acácias e palmeiras.

A Pérsia possui também a sua própria tradição de jardinagem: pensa-se que Dário I da Pérsia possuía um "jardim paradisíaco". Nesta época tinha também surgido já na China a arte da jardinagem, mas com uma concepção bastante diferente: a visão de um lugar de isolamento e contemplação dos elementos naturais.

Na Idade Média o verde foi praticamente banido da vida urbana. Nas zonas amplas dos mosteiros plantavam-se árvores frutíferas, hortaliças e cultivavam-se flores para a ornamentação dos altares. O estilo de jardim desenvolvido nesta época constitui uma mistura desordenada e fragmentária. O que era bem característico era a estrutura crucial da composição assim como a intersecção ortogonal das alamedas e caminhos. Os dois estilos básicos de jardim eram os monacais e mouriscos. Os monacais, que representavam uma reacção ao luxo da tradição romana eram divididos em 4 partes: o pomar, a horta, o jardim de plantas medicinais e o jardim de flores. Os mouriscos, chamados pelos árabes de "jardins da sensibilidade" caracterizavam-se pela água, cor e perfume, com os objectivos de sedução e encantamento. O emprego de canais, fontes e pequenos regatos formavam um aspecto hidráulico para a irrigação e para amenizar o calor. A cerâmica e os azulejos eram bastante utilizados. Nestes jardins as espécies mais cultivadas eram os jasmins, os cravos, os jacintos, as alfazemas, as rosas, as primaveras e as anémonas.

No renascimento, os jardins tiveram uma verdadeira expansão, quer na Itália, França e Inglaterra. Na Itália, foi proposto que para um melhor aproveitamento das irregularidades do terreno, se fizesse uso de escadarias e terraços acompanhados de corredeiras de água. Estes jardins uniam-se à casa através de galerias externas e outros prolongamentos arquitectónicos. Os jardins eram tidos como centros de retiro intelectual onde os sábios e artistas podiam trabalhar e discutir no campo, longe do calor e das moléstias do verão da cidade. A vegetação era considerada secundária e caracterizava-se por receber cortes adquirindo diferentes formas, conhecidas anteriormente nos jardins romanos por topiárias. Esta mesma vegetação era distribuída pelos terraços e, no plano mais elevado do jardim, dominando a composição, encontravam-se, geralmente, os palácios. Os loureiros, os ciprestes, as azinheiras e o pinheiro manso eram as espécies mais utilizadas. O buxo era utilizado para as formas recortadas. Nestes jardins a paisagem era desenhada com régua e compasso, sendo caracterizada pela simetria.

Inicialmente, o estilo francês baseou-se nos jardins medievais, que utilizavam canteiros com flores e ervas medicinais. Com o passar do tempo, novas ideias foram sendo introduzidas pelos arquitectos italianos que trabalhavam na corte francesa. Como características deste estilo, podemos citar a rígida distribuição axial, a simetria, a perspectiva, o uso de topiárias e a sensação de grandiosidade. Os principais jardins foram construídos pelo famoso arquitecto/paisagista de Luiz XIV, André Le Nôtre. A sua obra mais marcante foi o jardim do Palácio de Versalhes.

No reinado de Luiz XV, o estilo francês entrou em decadência devido à busca exagerada da forma e simetria. De um estilo formal, os jardins passaram a ter uma maior aproximação com a natureza. Inspiravam-se basicamente no oriente, no velho império chinês que possuía os jardins dos acidentes naturais. Tais jardins ficaram conhecidos como "jardins paisagísticos" e tinham como características básicas a irregularidade e a falta de simetria nos caminhos, projectados com menos rigor. Esses jardins procuravam imitar a natureza no seu traçado livre e sinuoso e a água presente encontrava-se disposta em lagos ou riachos. Tais inovações iam de encontro às ideias do romantismo da época. A Inglaterra também teve os seus mestres paisagistas como William Kent e William Chambers. O principal objectivo era assim que as pessoas percebessem como jardim, toda a natureza que existisse à sua volta.

No Japão desenvolveu-se um estilo próprio, com a criação de paisagens minimalistas denominadas taukiyama e, paralelamente, os austeros jardins Zen nos templos, os hiraniwa. Os modelos dos primeiros jardins japoneses vieram da China e representaram o prazer e divertimento dos aristocratas. Os do Período Heian (794-1185) tinham normalmente um lago com uma ilha e eram construídos para contemplar a Natureza através das mutações das estações do ano. Posteriormente, os jardins começam a desenvolver características próprias, dando destaque, por exemplo, às diferentes composições com pedras de diversas dimensões. Nos jardins do século VII e do século VIII começaram a ser introduzidos elementos como lagos artificiais, pontes e lanternas. Nestes jardins a água surge com um elemento característico e é apresentada sob as mais diversas formas. A gravilha branca e as rochas sugerem um rio a correr ou um oceano.

O primeiro estudo acerca dos jardins japoneses, o Sakuteiki (Ensaio sobre a Concepção de Jardins), foi escrito por Tachibana Toshitsuna, no início do período Kamakura (1185-1333).

Apontado como o designer de jardins mais famoso da história do Japão conta-se o monge Zen Muso Soseki, do século XIV (1275-1351) que ao longo de suas viagens fundou vários pequenos mosteiros nas montanhas, com jardins integrados no cenário natural. Mais tarde foi protegido pelo imperador Godaigo e nomeado abade dos mosteiros de Tenryuji e de Rinsenji, em Quioto, onde concebeu maravilhosos jardins. Já no fim da vida retirou-se para o pequeno templo de Saihoji, onde criou um jardim utilizando o musgo como elemento principal e incorporando o ideal chinês de "dez visões maravilhosas".

Pires, Manuel da Conceição, Botânica Elementar, Gráfica Monumental, Lisboa, 1973
Tavares, C. N., Jardim Botânico da Faculdade de Ciências de Lisboa, Imprensa Portuguesa, Porto, 1967
Walpole, Horace, Ensayo sobre la jadineria moderna, Olaneta, Barcelona, 2003







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Bruno Côrte, Funchal, 1974
Com formação em pintura e ilustração na Universidade da Madeira e na AR.CO, respectivamente, começou a expor em 1998. Em 2001 vence o primeiro prémio do II Concurso Regional de artes Plásticas, na Casa das Mudas, Ilha da Madeira com Landscape Study e em 2003 vence o segundo prémio no mesmo concurso. Foi seleccionado em 2003 para o III Prémio de Escultura City Desk, no Centro Cultural de Cascais, onde apresentou a peça Guarda-Folhas. Em 2008 vence uma Bolsa de viagem ao Japão atribuída pela Bienal de Cerveira de modo a prosseguir com um projecto de pesquisa em torno da paisagem, um tema, diga-se, que tem vindo a ser pesquisado e explorado de diversas formas, quer na pintura, instalação e mais recentemente com a fotografia. A utilização de espaços fechados para a realização de plantações e uma evidente reinterpretação da natureza têm sido aspectos relevantes no seu trabalho, onde se destaca Landscape Room, Teatro Municipal, Funchal, em 2002 e Private Underground, Museu de Arte Contemporânea, Funchal, em 2003. A apropriação e posterior utilização e acumulação de diversos elementos da natureza, tais como folhas, flores, ramos de árvores e plantas tem sido outra predominância, por vezes associados a objectos de jardinagem, Me and my nature, Casa da Cultura de Santa Cruz, 2002; Sementes e outras naturezas, Galeria Serpente, Porto, 2004; Chlorophyll room, Museu de Arte Contemporânea, Funchal, 2007 e Herbarium, galeria Serpente, Porto, 2009, onde apresentou uma serie de folhas e flores recolhidas entre 1999 e 2009 são exemplos. Neste momento a sua pesquisa artística abarca principalmente a fotografia. Uma nova abordagem da paisagem tem marcado o seu trabalho, tanto no que se refere à transitoriedade e exploração do espaço enquanto reprodução sazonal quer de um ponto de vista vivencial onde é destacada a intervenção do homem. A analogia entre o homem, a natureza e o próprio artista, assim como uma nova interpretação e disposição do tempo natural das estações do ano, das intempéries e do crescimento das plantas são alguns critérios a destacar nesta observação, in loco ou à distância, metódica e quase minimalista. Tem exposto regularmente na Galeria Serpente, no Porto.

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